sábado, 18 de outubro de 2008

Poesias e composições

TRISTEZA DE UM CAMPEIRO
(Leomar Barboza)

Foi mais de mês de preparo
Para aquele grande dia
Te busquei na estrevaria
Lustrei, penteei tuas crinas
Tinha festa na cidade
Era dia de rodeio
Não íamos fazer feio
Nós tava lindo por demais
Vesti a melhor bombacha
E minha bota sanfonada
Lenço de cor encarnada
Que eu herdei de meu pai...

Joguei sobre ti os arreios
Pus uns cobres na guaiaca
Ajeitei a bainha da faca
Paia e fumo pro paieiro
Nós dois estava faceiro
E de pronto se bandeamo
Sentia o vento minuano
Acariciando as melenas
A boca tava pequena
Pro tamanho do sorriso
E versos de improviso
Na estrada fui declamando...

De longe vi o alvoroço
Aquele mundaréu de gente
Fiquei tímido de repente
Deu vontade de voltar
Me cobraram para entrar
Lá se foram meus vinténs
Fui dando –“buenas, tudo bem?”
Mas poucos me estenderam a mão
Vi que a minha tradição
Que cultuava o nativismo
Tinha um pouco de modismo
Foi de doer meu coração

Um guri foi se achegando
E com gesto de ironia
Me perguntou pr’onde eu ia
Com este bagual de “raça”
E eu sem perder a graça
De pronto lhe respondi:
-“escuta aqui meu guri,
Este bagual é crioulo
Nunca ganhou troféu de ouro
Porém é meu ganha-pão
Campeando rês pro patrão
E quebrando chifre de touro...”

Meu potro se acabrunhou
Ficou meio envergonhado
Olhando o bagual do lado
Do piazito que prozeava
Que todo entonado estava
Parecia um gigante
Desfilando elegante
Meu potro ficou miúdo
Mas sou taura macanudo
De jeito nenhum me entrego
Chamei o guri de prego
Num gesto de João Cuiudo.

Não fique triste meu zaino
A vida é desse jeito
Ninguém no mundo é perfeito
Tu sabes que sou teu amigo
Quero-te prá sempre comigo
Nunca vou te abandonar
Jamais irei te trocar
Por esses de nome estrangeiro
Prá mim será sempre o primeiro
Nesses rodeios da vida
Campeando rês perdida
...És dono do meu potreiro...

O sol foi se descambando
E com os olhos molhados
Puxei meu pingo pro lado
Nós dois pro campo voltava
Uma tristeza magoava
Dois corações missioneiros
Eu e meu potro campeiro
Vamos pedir por piedade
Pra que o povo da cidade
Jamais querendo ofender
Posso um dia compreender
O que é ser gaúcho de verdade...

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